As pessoas têm medo e vergonha das palavras, obviamente.
Branco é branco. Preto é preto. Mesa é mesa. Americanos são americanos. Vida é vida. Morte é morte. Sexo não é rapidinha, nem brincadeira. É sexo. Câncer é câncer – e não “neo”. E por aí vai. Assusta mas é.
Claro que as palavras têm uma carga subjetiva e que nem sempre se diz exatamente o que se quer, ou se diz uma coisa querendo que outra seja dita. Há uma posição subjetiva em jogo. Mas não é por isso que não se pode tentar dar nome aos bois de uma maneira mais adequada, para tentar não ofender a si mesmo nem a ninguém. A ofensa vai acontecer de qualquer modo e, às vezes, esconder é pior: finge-se que nada acontece e não se elimina a base do problema.
Digo mais: se sinônimos fossem exatamente iguais, não haveria duas palavras; só uma. E o pior é uma expressão que tenta mascarar um adjetivo claro e pesado.
O Brasil não está “em desenvolvimento”, até porque é lógico pensar que qualquer lugar ou pessoa do planeta e qualquer está em desenvolvimento, uma vez que continua. Parou de viver, parou de se desenvolver. Ainda que para trás, desenvolve-se algum movimento. Sempre.
Alguns usam “subdesenvolvimento”; outros, da esquerda dos anos 80, “terceiro mundo”. É menos mal, mas ainda esconde um pedaço. O Brasil é pobre. As pessoas são pobres. As cidades são pobres, os museus são pobres. Pobres.
A pobreza está em cada detalhe, cada pintura malfeita pela cidade, cada parede quebrada, cada casa mal construída, cada morro, cada jeitinho, cada gramado mal cuidado, cada denúncia de corrupção, cada piso desencaixado, cada terreno baldio, cada buraco na rua, cada chuva que destrói a cidade inteira, cada poste com a fiação emaranhada.
É pobre. É jeca. Repito: pobre. Pobre e não é limpinho. Se isso dói, é um problema a ser resolvido. E eu pago pra ver algum desenvolvimento maior disso daqui.
Em meio a isso, o prefeito de Goiânia lança uma campanha para fazer da cidade a mais limpa do Brasil. Não será difícil, mas duvido que consiga. Pode até melhorar, mas, brasileiros, continuaremos pobres e sujinhos.
sexta-feira
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Flávio, será que esse brasileiro do qual você fala sabe que é sujinho? Será que alguém para pra ensinar pra ele o que é ser limpinho? Pode soar como demagogia, mas "jeca" é demais. Porque fica implícito algo como uma ESCOLHA pela mediocridade. Na prática os jecas são alienados do direito à limpeza desde quando nascem. E isso funciona, é uma indústria, que gera meios de lucro para gente como o Sr. Prefeito de Goiânia. Os limpinhos gostam que os pobres sejam pobres, para que haja os que devem ser limpos (limpados?). Isso é menos cultura e mais política. Aqui, neste ponto, creio que concordo com o "jeca". Mas os limpinhos são mais jecas que os pobres.
Postar um comentário