quarta-feira

Contingências

De uma só tacada, no mesmo dia, eu quero preencher mais um buraco: o da existência!

Pretensioso, não? Não. Porque não quero dar conta da Existência em si, mas de algo menor, em todos os sentidos.

Fato é que a cada instante é necessário dar conta da existência. E na existência há este ínfimo e delgado blog. Oh! os blogs existem. E eu quero acreditar que isso não é uma mentira.

Eu afirmo que este blog existe, novamente. Se este blog existe, existe de alguma forma, ou para algo, ou em algo... Não vou traçar as direções todas e os motivos, e desmotivos, e imotivos, e amotivos, e premotivos, e promotivos, e remotivos para esta existência. Mas entre outras coisas, existe o espaço para que algo seja dito. Dito para que algo escape.

Dizer porque a contingência é anterior à coerência; a coerência é forjada da contingência. A contingência, contudo, está aí e é dita. Vez ou outra, eu vou querer dizer. Isso coloca a existência em pauta. A do blog, no caso.

A morte e a pausa

Sejam novamente bem-vindos.

A tinta começa a secar. Você pode colocar a mão e sentir OCARTAZ seco e parado, mas não coloque demais, senão mancha. Se manchar, você não lê. E dá pra sentir a diferença entre a textura desta e da última tinta. Sim, porque a última foi há um mês.

Tinta velha pode ser valiosa. Tinta nova, igualmente. Assim, eu deixo aqui minhas digressões sobre tinta.

* * *

O que é verdadeiro? Na última vez, eu disse que aqui, ou melhor, logo ali em cima, que a verdade tem estrutura de mentira. E vice-versa. Comecemos do que há em comum às duas: a forma de ficção.

A verdade, além de muitas outras coisas, é aquilo que se extrai do tempo a fim de que não seja corroido. O interessante é que esta verdade é fundamentalmente e quase somente aquilo que um sujeito percebe como duradouro. Chamemos nosso sujeito aqui de Darci.

Se Darci achar que tomar café é importante, ter tomado café pela manhã foi uma verdade. Se não, não terá sido. Mas digamos que Darci cruze a rua X para ir para determinado lugar. Embora seja "verdade" que a rua X tenha este nome, Darci pode nunca ter notado isso, e não será verdade para Darci que a rua X se chame X.

E Darci, nosso bode-expiatório, quando diz a verdade, nem sempre conta a verdade. A verdade de Darci pode muito bem ser uma mentira! E devemos acreditar em Darci porque Darci mente. E todos sabemos que Darci mentirá, enquanto existir. E precisamente no momento em que mente, a mentira para Darci e para o seu discurso é tomada como verdade. Quem não acredita numa mentira, jamais a conta.

Um sujeito acredita numa mentira nem que seja para que essa mentira oculte aquilo que o envergonha, por exemplo. E, em sendo assim, a vergonha é sentida como verdade para Darci.

A verdade, continuando neste raciocínio é não-toda: jamais completa, jamais pronta e acabada. Sempre há algo a ser colocado ali que Darci apreende como verdade, como incorroível. Darci não dirá tudo, e nem somente a verdade, e nem apenas a verdade, e nem toda a verdade. É ingênuo achar que um sujeito será capaz de fazê-lo. Darci talvez acredite. Os cientistas costumam acreditar.

Darci, enquanto viver, sente aquilo que da verdade afeta seu corpo de qualquer forma que um corpo pode ser afetado. E como um corpo pode ser afetado? Ora, com afetos. E, dos afetos, alguns enganam, outro não. É necessário separá-los a fim de obter a Verdade, que jamais existira em si ou mim: uma vez que tentarmos agarrá-la e apreendê-la, ela, boa mulher, escorrerá pelos dedos, assim como o tempo.

Eu volto: a verdade está intimamente ligada ao tempo. Ambos são infinitos, mas contáveis, escansíveis.

Por isso, uma pausa finita e infinita. Pausa que determina o fim de Darci.